Por que nem tudo é melindre: a rispidez do dia-a-dia de quem perdeu a educação e o trato!
(Redação do Momento Espírita com base em fato narrado no artigo O
problema do melindre, de André Marcílio Carvalho de Azevedo, da Revista
Presença Espírita nº 261, ed. Leal. - www.momento.com.br)MELINDRE OU AGRESSIVIDADE?
Melindre tem várias definições. Pode ser definido como amabilidade, delicadeza no trato, recato, pudor.
No entanto, é quase certo que ao ser utilizado pelas pessoas, o
conceito que expressa é de facilidade de se magoar, de se ofender,
susceptibilidade.
Nesse sentido, tem sido comum a sua invocação,
nas relações humanas. As menores atitudes de um funcionário, de um amigo
recebem a adjectivação imediata.
Por isso, amizades se diluem, desentendimentos acontecem, duplicando mágoas de um e de outro lado.
Nas várias facetas do trabalho voluntário, melindre tem sido
utilizado para justificar defecções, traições, desajustes e quebra moral
de contratos de voluntariado.
Que ele existe, é verdade. Mas que
as pessoas se dão, por vezes, um valor maior do que verdadeiramente
possuem e aguardam tratamento especial, também é verdade.
No entanto, um outro lado da questão se apresenta e tem sido esquecido, quase sempre.
Se melindre é a manifestação do orgulho ferido, não menos verdade que
medra, entre as criaturas, muita falta de tacto, delicadeza e
gentileza.
Em nome de uma falsa caridade, de expressar a verdade,
amigos e companheiros de trabalho se permitem lançar ao rosto do outro
tudo que pensam.
E não medem palavras nas suas expressões. É como se tomassem de pedras e as jogassem, sem piedade.
E o que esperam é que o outro aceite tudo. Quando o agredido se
insurge, quando toma uma atitude, quando fala de respeito, é tomado como
aquele que se melindra.
Contudo, em nenhum momento o agressor,
aquele que foi indelicado e feroz, se desculpa. Não, ele está certo. O
outro é que é portador de muito orgulho.
Nesse diapasão, vidas
honradas de trabalho têm sido literalmente jogadas no lixo. Servidores
de anos têm tido seus esforços depreciados, como se fossem coisa alguma.
E o que critica maldosamente, o que aponta os erros mínimos é o herói, a pessoa correta.
Refaçamos os passos enquanto é tempo. Antes de destruirmos valores
afectivos preciosos. Antes de atacarmos instituições centenárias com
folha irrepreensível de dedicação e serviço à comunidade.
Examinemos quantas vezes a culpa nos compete. Quantas vezes teremos sido
nós os provocadores do afastamento de pessoas de nosso convívio.
Ou da instituição a que prestamos serviço. Da nossa família, da nossa esfera de amizades.
Recordamos que, certa vez, em reunião de trabalho, um voluntário interrompeu de forma agressiva a fala do coordenador.
Reclamou e reclamou, ferindo e humilhando-o frente aos demais.
O ferido se calou, dolorido. Depois de alguns dias, procurou o
agressor em particular. A sós com ele, expressou a sua mágoa, com o
sincero objetivo de modificar a emoção ferida e apaziguar seu mundo
íntimo.
O interlocutor, em vez de reconhecer a indelicadeza,
reverteu a situação e deu o diagnóstico impiedoso: não houvera agressão
de sua parte. O outro é que se melindrara.
Pensemos nisso. Será que a constatação quase diária de melindre nos outros não se tornou uma válvula de escape para nós?
Uma desculpa para a nossa rispidez quotidiana, o nosso relaxamento no trato com o semelhante?
* * *
Quem se melindra, deve trabalhar para se tornar menos susceptível.
Mas quem provoca o melindre não pode se esquecer da lei de caridade,
da afabilidade e da doçura preconizados por Jesus: Bem-aventurados os
mansos e pacíficos.